quinta-feira, 22 / novembro / 2012
Em artigo publicado originalmente no
jornal Folha de São Paulo do dia 20 de novembro de 2012, a ministra de
Estado da Cultura, Marta Suplicy fala sobre o Dia Nacional de Zumbi e da
Consciência Negra, as ações afirmativas e os editais lançados pelo MinC
para criadores, produtores e artistas autodeclarados negros.
Tenho muito forte a convicção da
necessidade de ações afirmativas para os negros. Essa posição vem de
minha experiência morando nos EUA nos anos 1960, vivendo a batalha pela
inclusão por meio de cotas raciais desta parcela excluída.
Por não falar bem inglês, fui
colocada num curso de proficiência, juntamente com outros estudantes.
Para minha surpresa, eu era a única branca numa classe de estudantes
americanos. Eles quase que falavam pior que eu. Era um dialeto que na
versão oral virava outra língua.
Não demorei para entender o porquê daquele grupo. As consequências para o país passei a entender mais tarde.
Entrar numa universidade da Ivy
League (a seleção das 10 melhores dos EUA) só era e continua sendo
possível com notas muito altas. Aqueles estudantes não tinham a mais
leve chance de estar ali ou acompanhar as aulas sem um reforço forte.
Passados 50 anos, eles formariam uma sólida classe média e ocupariam
altos postos na condução do país. Um deles, estudante em outra destas
universidades de excelência, chegaria à presidência dos EUA.
Essas oportunidades propiciaram a
qualificação de milhares de jovens que levariam gerações para chegar ao
patamar que hoje conquistaram. Eu vi acontecer, por isso acredito.
Sei que há negros que conseguem
quebrar a barreira do preconceito. Não é a realidade da maioria. Olhe em
volta. Quantos negros colegas no seu escritório? No seu clube? Na
escola de seus filhos? Na fila do cinema ou nos restaurantes que você
frequenta? Repare, agora, quantos em situação de serviçal.
Os números mostram que tanto brancos pobres como negros que ingressaram por cotas nas universidades brasileiras têm se superado.
Daqui a algumas gerações não
necessitaremos mais de cotas. Entretanto, toda ação para agilizar esta
ascensão ainda é necessária. Nos beneficiários da Lei Rouanet, poucos
são os que apresentam projetos e menos ainda os que, se aprovados,
conseguem captar recursos.
Neste Dia Nacional de Zumbi e da
Consciência Negra — em São Paulo, declarado feriado na nossa gestão — o
Ministério da Cultura lança editais em diversos segmentos para
criadores, produtores e artistas que se declarem negros.
A Fundação Biblioteca Nacional (FBN)
fará a implantação de 30 pontos de leitura e formação de autores negros
em todas as capitais. Estes novos talentos serão publicados em livros e
irão percorrer o Brasil na “Caravana de Escritores”, ao lado de nomes
já consagrados. Também serão oferecidas bolsas para pesquisadores
negros.
Estamos instituindo o Prêmio Funarte
Grande Otelo para investir em criação, produção e fazer com que
artistas e produtores negros ocupem palcos, ruas, escolas e galerias de
arte de todo o país. Fomentaremos 33 projetos nas categorias artes
visuais, circo, dança, música, teatro e preservação da memória, além de
pesquisa da produção artística negra no Brasil.
Por meio de nossa Secretaria do
Audiovisual, vamos premiar seis produções em curta-metragem. Trabalhos
dirigidos e produzidos por jovens negros, de 18 a 29 anos, com temática
livre e a possibilidade de utilização de técnicas de animação.
Estas propostas amparam-se no Plano
Nacional de Cultura e no Estatuto da Igualdade Racial, que prevê o
combate à discriminação e às desigualdades étnicas e a implementação de
incentivos e prioridade no acesso aos recursos públicos.
O governo Dilma, através destas
ações afirmativas do Ministério da Cultura, combate o preconceito e
investe na expressão artística para preservar nossas raízes. Neste
caminho, todos nós sairemos maiores.
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