quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Religião e Cidadania

Por: Da redação 07/08/2013 Vi e ouvi com muita atenção o programa Na Moral, apresentado pelo jornalista Pedro Bial, cujo tema versava sobre a laicidade do estado brasileiro. Não posso negar: fiquei pasmo. Afora a presença serena e tranquila do Babalawô Ivanir dos Santos que tentava a todo custo estabelecer um debate mais profundo e sério sobre as incongruências, desrespeitos ou mesmo o pouco caso com que a maioria das instituições religiosas de origem cristã, no Brasil, tratam esse direito constitucional, o que presenciei foi algo muito pouco instrutivo ou esclarecedor. O melhor que tivemos no programa foram as inserções previamente gravadas, em particular as intervenções do Ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal – Ministro Carlos Aires de Brito, que de maneira didática e clara mostrou os significados jurídicos e culturais que estão presentes no texto constitucional brasileiro e que precisam ser observados por todos, sejam eles evangélicos, católicos, ateus ou candomblecistas. Fiquei pasmo, em particular, com a performance do Pastor Silas Malafaia, que de maneira histriônica, teatral e muitas vezes desrespeitosa tratou a tudo e a todos. Ele não teve nenhuma cerimônia para distorcer fatos históricos, (apresentando números absolutamente falaciosos, como os fictícios 70 milhões de mortos, ocorridos na União Soviética, supostamente, por conta de perseguições religiosas), agir de forma agressiva e deselegante com seus colegas de debates quando discordava de alguma opinião e revelar, talvez este tenha sido o seu momento mais verdadeiro, o quão reacionário, autoritário e conservador são seus pensamentos e ideais. Não consigo parar de me perguntar o porque de um governo democrático, como o vigente em nosso país, e que nós ajudamos a eleger, é capaz de flertar com figuras como o Malafaia, abrindo espaços para que atuem no governo, viabilizando assim, meios e modos para o crescimento desse viés fascista do neo pentecostalismo. Hoje, as principais vítimas dessa visão de mundo, são as religiões e os religiosos de matriz africana, os homossexuais e as mulheres brasileiras, que vêem seus cultos, seus templos, seus corpos e suas vidas serem vilipendiados difamados e achincalhados cotidianamente nos programas televisivos e radiofônicos dessas igrejas, (que são concessão pública) sem que haja a adoção de quaisquer medidas, por parte das autoridades competentes, que impeçam essa violência a cidadania. Mas, não se iludam, amanhã, com a possibilidade real do exercício de poder, as vítimas serão a sociedade brasileira e a democracia, porque é impossível haver termo de convivência entre esses ideais autoritários e o processo democrático. No meu entendimento, não há governabilidade que justifique uma aliança com essas figuras, sem que se jogue na lata do lixo da história, os nossos princípios e compromissos democráticos. Outra participação que deixou muito a desejar, até pela gigantesca força que ainda possui na sociedade brasileira, foi a do representante da Igreja Católica, o Padre Jorjão. Embora, neste caso, possamos dar um desconto, até porque ele não é um líder de ponta da igreja. Sabemos todos, que os principais líderes católicos no Brasil e em particular a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e até mesmo o Papa, possuem uma visão muito distinta, mais crítica e avançada sobre o papel das religiões na sociedade brasileira, do que aquelas expressas pelo Padre no programa, mormente a negação que o mesmo fez sobre a responsabilidade da Igreja no lamentável e doloroso processo da escravidão no Brasil. Parecia mais que o padre estava pagando uma penitência que participando de um debate. Enfim, o debate deixou claro, o quão importante é travar esta discussão no Brasil hoje, visto os riscos que estamos correndo. Neste sentido, assegurar a laicidade do estado brasileiro é fundamental. Fazer valer o texto constitucional que garante o livre arbítrio de qualquer cidadão na escolha de sua religião é muito mais que lutar pelo cumprimento de um preceito legal. É garantir, a pluralidade e a diversidade cultural da nossa sociedade. É garantir o respeito e a convivência pacífica entre os diferentes e que os legados culturais, religiosos e científicos que contribuíram para a formação da nossa sociedade sejam respeitados. Axé ! Toca a zabumba que a terra é nossa ! Fonte: Áfricas

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