Publicação apresenta estudo detalhado sobre a exploração de
crianças e adolescentes no país e tem como objetivo subsidiar o debate
sobre combate à prática
Por Repórter Brasil

Publicação
foi lançada em encontro da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos
Humanos no Congresso Nacional, em Brasília (Foto: Leonardo Sakamoto)
A
Repórter Brasil apresentou na tarde desta
terça-feira, 8 de maio, o relatório “Brasil Livre de Trabalho Infantil: o
debate sobre as estratégias para eliminar a exploração de crianças e
adolescentes”, estudo detalhado sobre a exploração de crianças e
adolescentes no país. O documento tem como objetivo fortalecer o debate
sobre como aprimorar o combate e erradicar tal prática. O lançamento
aconteceu durante sessão da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos
Humanos, no Congresso Nacional, em Brasília.
Clique aqui para baixar o relatório.
Participaram do lançamento Antonio Mello, coordenador da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), Juliana Petroceli., representante
nacional dos direitos da criança e do adolescente da Secretaria Especial
dos Direitos Humanos, além dos deputados Chico Alencar (PSOL/RJ),
Domingos Dutra (PT/MA), Erika Kokay (PT-DF), Jean Willys (PSOL/RJ), Luiz
Couto (PT/PB), Luiza Erundina (PSB/SP), Nilmário Miranda (PT-MG), Padre
Ton (PT/RO), entre outros.
Passado um primeiro momento de grande arrancada na prevenção e
eliminação do trabalho infantil no Brasil, do início dos anos 1990 a
meados dos anos 2000, o país enfrenta um novo desafio para manter o
ritmo de queda. Enquanto a primeira fase foi marcada pela retirada de
crianças e adolescentes das cadeias formais de trabalho, o novo desafio
são as piores formas, que o poder público tem mais dificuldade de
alcançar. “Chegamos a um momento crítico, a um núcleo duro”, afirma
Renato Mendes, que foi coordenador no Brasil do Programa Internacional
para a Eliminação do Trabalho Infantil (Ipec) da Organização
Internacional do Trabalho até janeiro de 2013.
Segundo o Censo, em 2010 havia 3,4 milhões de brasileiros de 10 a 17
anos trabalhando. O total caiu 13,4% desde 2000, mas a frequência entre
10 a 13 anos aumentou 1,5%. O desafio é alcançar esse segmento, onde
estão as piores formas de trabalho infantil.
Para debater os diferentes aspectos do problema, o relatório “Brasil
Livre de Trabalho Infantil” introduz com dados gerais e as dificuldades a
serem enfrentadas no campo político, da justiça e cultural. Na
sequencia, traz quatro capítulos, analisando em profundidade as piores
formas de trabalho infantil, debruçando-se sobre o trabalho doméstico, o
urbano informal e ilícito, o trabalho rural e a exploração sexual
comercial de meninas e meninos.
Introdução
Na Justiça, destaca-se problema nas esferas estaduais, que concedem
autorizações prévias para que menores de 16 anos ingressem no mercado,
medida considerada inconstitucional. Só em 2011, foram 3.134 casos. Há
autorizações para adolescentes e crianças trabalharem em lixões, na
pavimentação de ruas e em fábricas de fertilizantes.
No campo cultural, persistem os argumentos favoráveis às atividades
laborais de crianças e adolescentes para “mantê-los longe do crime” ou
“dignificá-los”. Especialistas alertam para as consequências negativas
dessa cultura.
Na político, as maiores dificuldades são a falta de articulação entre
as diferentes esferas municipais, estaduais e federal e problemas
referentes ao Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti).
Segundo as fontes consultadas, os principais questionamentos ao programa
giram em torno do controle da frequência escolar e a presença nas
atividades no contraturno. Assim como do não retorno ao trabalho
infantil.
Trabalho doméstico
O capítulo analisa os gargalos e caminhos para a erradicação do
trabalho infantil doméstico na casa de terceiros. Apresenta os riscos
envolvidos na atividade e as barreiras à sua fiscalização. O principal
entrave nesse sentido é o princípio da inviolabilidade do lar, que
impede a entrada dos fiscais em residências sem mandado judicial.
O texto aborda ainda estatísticas nacionais e internacionais dessa
prática oculta, que atinge principalmente as mulheres. Segundo dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), o trabalho infantil
doméstico em casa de terceiros atingia 258 mil brasileiros dos 10 aos 17
anos, em 2011. Considerada entre as piores formas de trabalho infantil,
a atividade só é permitida a partir dos 18 anos.
Há mais mulheres menores de 16 anos engajadas em serviços domésticos
do que em qualquer outra atividade. No Brasil, enquanto o trabalho
infantil atinge mais os homens, no doméstico a situação se inverte: 94%
das crianças e adolescentes trabalhando em casas de família são do sexo
feminino.
Centros urbanos: trabalho informal e ilícito
O trabalho infantil urbano se dá principalmente em atividades informais e
ilícitas, como o tráfico de drogas. Embora seja uma das atividades mais
visíveis nos grandes centros urbanos, é uma das mais difíceis de
combater.
Os serviços informais e o tráfico parecem atrair cada vez mais
meninas e meninos com menos de 16 anos. No início dos anos 1990, a idade
média de ingresso no tráfico de drogas na cidade do Rio de Janeiro era
aos 15 e 16 anos. Dez anos depois, havia caído para 12 e 13 anos. O
Brasil assumiu o compromisso de erradicar essa prática até 2015.
O capítulo ainda mostra como o trabalho informal e precário atinge
especialmente os adolescentes e jovens e está relacionado à evasão
escolar e à falta de alternativas oferecidas pelo mercado. A erradicação
passa pelas diretrizes da Agenda Nacional de Trabalho Decente para a
Juventude, lançada em 2006 e que requer um plano com ações, metas e
indicadores.
Por fim, o texto aponta estratégias inovadoras de responsabilização
adotadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pelo Ministério Público
do Trabalho.
Trabalho rural
O setor agrícola e extrativista concentra mais da metade dos meninos e
meninas de 5 a 13 anos que trabalham no Brasil. Por isso, é tido como
uma das áreas prioritárias no setor. As ações, porém, carecem de medidas
específicas para a população e economia rural.
O capítulo descreve as características do trabalho infantil no campo
brasileiro, que segue apresentando a maior taxa de crianças ocupadas com
menos de 14 anos, principalmente na agricultura familiar. O fenômeno é
mundial, segundo a OIT, 60% das crianças entre 5 e 17 anos que trabalham
no mundo estão no setor agrícola ou extrativista.
São apresentados ainda os problemas acarretados pela insuficiência
nas políticas de educação voltadas ao campo. Diante das falhas do
Estado, a responsabilização das famílias pelo trabalho infantil no campo
é vista com cautela. Há um movimento para cobrar as empresas que
compram dos produtores rurais, elas teriam o dever de manter suas
cadeias produtivas livres do trabalho infantil e de sua exploração.
Exploração sexual
O último capítulo analisa alguns impasses no enfrentamento da exploração
sexual de crianças e adolescentes, especialmente no que se refere à
qualificação do atendimento às vítimas. Nos últimos 20 anos, as ações de
enfrentamento avançaram: de 2004 a 2010, o número de programas federais
para a área saltou de três para 13. Um dos reflexos foi o aumento das
denúncias. Embora a sociedade esteja mais sensível ao tema, as vítimas
ainda sofrem com a impunidade, o atendimento precário e a insuficiente
articulação entre as ações desta política.
Um dos maiores desafios hoje é o aumento da exploração no contexto
das grandes obras de infraestrutura em curso no país. Entidades ligadas à
rede de enfrentamento alertam para a intensificação desse tipo de
violação nas regiões onde estão sendo construídas as grandes obras de
infraestrutura e para os megaeventos, como a Copa Mundial. Elas
recomendam que as ações de prevenção figurem nos processos de
licenciamento das obras. Em contrapartida, o engajamento do setor
privado se apresenta como alterativa na inserção das vítimas no mercado
de trabalho legal e formal.